RESUMO


MATERNIDADE SOLO: nuances e conjunções de uma realidade

 

Ewelyn Fernandes de Campos1 Karla Michelli Franco Costa2 Liliana A. M. Guimarães3


 

Os valores, práticas e papéis atribuídos à mulher ao longo da história, têm abarcado diversas mudanças que, no entanto, ainda corroboram continuidades acerca da depreciação histórica dispensada à figura do sexo feminino. O relacionamento matrimonial e o modelo tradicional de família, na sociedade contemporânea, não mais configura o modo ideal e exclusivo de vida para a mulher, numa abertura cada vez maior para sua protagonização nos diversos contextos da sociedade. Quando se fala em maternidade, no entanto, diversos padrões e experiências envolvem o processo de se tornar mãe; ainda, quando esta condição é vivenciada na configuração de uma mãe solo, há uma presença evidente de depreciação pela não integração em um relacionamento matrimonial. O presente estudo se propõe, de forma exploratória-descritiva e analítica, a compreender e elucidar nuances e conjunções que envolvem tal problemática; baseia-se em uma revisão narrativa da literatura que embasa a compreensão da temática estudada e comporta também, para fins de análise, discussão a partir de três (3) entrevistas realizadas com mães solo, com o objetivo de melhor contextualizar o tema em nossa cultura. Para suporte da análise dos dados, foi utilizado o software do IRaMuTeQ, que possibilita a interface para análises estatísticas a partir da linguagem. Diante das narrativas coletadas, é possível observar características e semelhanças nos diálogos, evidenciando impactos psicológicos, sociais, financeiros, entre outros, que envolvem o cotidiano de uma maternidade vivida solo. Desta forma, o presente estudo propõe-se a discutir as nuances que afetam as conjunções de uma maternidade solo, buscando também perceber o fenômeno sob a ótica dos preceitos psicossociológicos e da teoria das representações sociais.

 

Palavra-chave: Família. Mulher. Maternidade. Sociedade. Cultura

 

 


 

INTRODUÇÃO

 

O termo “mães solteiras”, como eram conhecidas as mães solos, carrega um forte resquício da sociedade machista e patriarcal historicamente construída, em que a mulher –

1 Trata-se de um estudo sobre maternidade solo, ou seja, sobre a situação das mulheres que são mães, mas não estão inseridas em uma relação conjugal e que compõem uma numerosa realidade no Brasil e no mundo, seja por meio de uma maternidade experienciada de forma voluntária e planejada, como a adoção unilateral ou a gestação por meio de técnicas reprodutivas, seja por questões socioculturais como o abandono ou a omissão paterna.

2 Graduanda em Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande, Mato Grosso do Sul. E-mail: ewelyn.fernandes15@gmail.com

3 Graduanda em Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande, Mato Grosso do Sul. E-mail: karla franco@hotmail.com

4 Professora Doutora da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) dos cursos de graduação e pós graduação

stricto sensu em Psicologia. Orientadora do presente trabalho. E-mail: lguimaraes@mpc.com.br


sobretudo esta mulher que deveria ser casada – possuía seus direitos civis, sexuais e reprodutivos reduzidos e em sua maioria submetidos à vontade do marido (GRISCI,1995). Nos dias atuais, este termo é considerado pejorativo por reconhecer que a vivência da maternidade, independente do contexto, nada tem a ver com a situação conjugal da mulher. Além disso, a crescente protagonização adquirida e vivenciada pela mulher nos dias atuais possibilita mudanças significativas nas respostas que a sociedade apresenta diante das problemáticas destacadas ao universo feminino.

 

A mulher na sociedade contemporânea, exerce as mais variadas funções e papéis nos diversos contextos nos quais está inserida; mais do que isso, ela passa a posicionar-se em seu poder de escolha, não só diante dos diferentes contextos, mas sobre sua própria vida e trajetória. Desta forma, a mulher moderna passa a exercer todas as funções que antes eram executadas majoritariamente pelo homem, conquistando assim a abertura do seu espaço, mostrando e reafirmando a sua capacidade que vai muito além de um atributo de “sexo frágil”. A mulher detém em sua composição e força, a capacidade de exercer e se performar nas mais variadas funções; além disso, caminha constantemente em direção à quebra de estigmas e normatizações, buscando fortalecer o seu lugar de fala e consolidar sua emancipação (MORAIS & OLIVEIRA, 2010).

 

O presente estudo busca, sob a ênfase do contexto e da vivência da maternidade solo, evidenciar as crescentes conquistas adquiridas pelas mulheres quanto ao fortalecimento e garantia de sua autonomia e protagonização na sociedade, mas ressaltando também as continuidades dos padrões e disparidades que influenciam na permanência de conflitos de gênero, discriminação e desigualdades sociais e com isso, consequente impactos psíquicos e sociais que corroboram em relações sociais disfuncionais.

Para elaboração deste estudo, foram pesquisados os seguintes Banco de dados: Scielo, Google acadêmico, Pepsi, ResearchGate, artigos, dissertações, livros, teses e estatísticas que revelam mudanças expressivas no padrão social e, consequentemente, na dinâmica relacional dos indivíduos, buscando compreender quais mudanças ocorrem na disparidade de gênero em relação a questões como o trabalho de cuidado com os(as) filhos(as), posto que as atividades que envolvem educação, criação e socialização destes são desempenhadas majoritariamente pelas mulheres, alertando para a naturalização do abandono paterno (MORAIS & OLIVEIRA, 2010). Neste contexto, surge a problemática norteadora do presente estudo: Quem são essas mulheres e como, nas novas configurações familiares, elas têm vivido em nosso país?


1.  A MULHER NA SOCIEDADE

 

Ao longo da história, diversos acontecimentos e processos de mudanças e transformações, constantemente, moldam a dinâmica das relações humanas e as estruturações da sociedade em geral. Conforme Ribeiro (2011), as questões de gênero destacam-se quando pensadas temporal e historicamente, de cultura em cultura, conforme convenções elaboradas socialmente, sendo o papel da mulher o mais estudado e discutido dentro dessa temática, haja vista a desigualdade sexual existente com prejuízo para a figura feminina.

 

Se por um lado, em outras épocas, a mulher ficava circunscrita à sua casa, hoje ela “abandonou” a restrição da vida dedicada ao lar e passou a se movimentar no mercado de trabalho, objetivando complementar a renda familiar e contribuir com sua própria autonomia. Segundo Losada e Rocha-Coutinho (2007 apud LOPES; DELLAZZANA-ZANON; BOECKEL; 2014), os anseios profissionais e financeiros na mulher contemporânea excedem até mesmo às expectativas relacionadas à vida familiar. Essa é uma transição bastante significativa, considerando que, algum tempo atrás, a mulher era educada somente para exercer o papel de dona de casa, mãe e esposa. Dessa forma, ela vivia em função do homem e era pouco valorizada como indivíduo na sociedade. Quando se desenvolveu a necessidade de a mulher enfrentar o mercado de trabalho, ela aos poucos conquistou seu espaço, não apenas vivenciando os processos de emancipação, mas se posicionando de forma a também conduzi-los.

 

Essa constituição tem sua base inicialmente influenciada pela configuração tradicional de educação proporcionada aos filhos, na qual a menina era ensinada a exercer com qualidade as atividades domésticas, delicada e submissa, podendo assim ser considerada como uma boa menina que futuramente se tornaria uma boa esposa; enquanto o menino era apresentado à diversas áreas de conhecimento, preparando-se para sua posterior profissionalização e protagonização na sociedade. Essa transmissão de valores disseminava então, de forma sucinta e no entanto, muito clara, quais eram as distinções esperadas entre o menino que viria a ser um rapaz e depois, um homem; e da menina que se tornaria uma moça e então, finalmente, uma mulher preparada para se casar com um bom marido e assim cuidar do seu lar. Percebe-se, dessa forma, que os processos de educação dispensados à formação da menina e do menino, direcionaram o padrão de relação na qual o homem exerce o domínio e a mulher, a submissão (BIASOLI-ALVES, 2000).


Ainda segundo Biasoli-Alves (2000), ao passo em que a sociedade tem se transformado ao longo do tempo, atribuída pelas inovações tecnológicas e o avanço constante dos processos de globalização, os papéis e atividades vinculados à mulher passam também a se moldar e a incluir novos fatores a seu domínio, impulsionando uma transição da figura feminina fragilizada e submissa, para um ser detentor de potencialidades e capaz de se desenvolver em seus propósitos e objetivos.

 

Todavia, pensa-se que o fulcro de todo o debate que se trava em torno da mulher é a luta que diariamente ela enfrenta para alcançar sua justa posição de igualdade em relação ao homem. Como é evidenciado, trata-se de igualdade social, política e econômica, respeitando-se as características e as tendências naturais de cada sexo, reivindicando-se, no entanto, oportunidades sociais iguais para todos, sem discriminações de espécie alguma, e é neste ponto que a luta feminina ganha sua grandeza. (SANTOS, 2005)

 

A oposição evidente nos dias de hoje, entre o presente e o passado, demonstra que há um anseio intenso em se distanciar dos padrões historicamente construídos, na busca pela construção cada vez maior de uma equidade entre os gêneros. A percepção desse movimento que se faz tão presente é necessária pois, para que as práticas normatizadas e causadoras de sofrimento e desigualdade do passado possam não mais constituir a realidade, somente a compreensão deste cenário proporcionará um caminho para a construção e clareza de um presente melhor (BURKE, 1991 apud BIASOLI-ALVES, 2000).

 

Essas configurações de papéis destinados a homens e mulheres têm passado por diversas transformações, trazendo à figura da mulher maior valorização e cada vez maior espaço para sua protagonização, tanto em razão das alterações nas relações sociais ou nos padrões de família, consideravelmente influenciadas pelas novas necessidades que a expansão dos campos tecnológicos e econômicos demandaram ao longo do tempo, como por exemplo, a maior quantidade de mão de obra nos espaços trabalhísticos (LOPES; DELLAZZANA-ZANON; BOECKEL; 2014); tanto pelo apoderamento cada vez maior das mulheres em seu lugar de fala, na busca pela garantia de direitos e pela construção de uma sociedade mais igualitária para todos (SOLOMON, 2008 apud LOPES; DELLAZZANA-ZANON; BOECKEL; 2014).

 

No entanto, é importante e também necessário, reconhecer que o percurso de inclusão da mulher nas diversas esferas da sociedade ainda sofre diversas continuidades dos padrões


machistas e patriarcais. Segundo Borges (2013), essas continuidades podem apenas assumir uma nova roupagem, permanecendo na repercussão de raízes depreciativas em relação à figura feminina. Assim, reafirma-se que a constante discussão sobre as disparidades vivenciadas entre os gêneros se faz continuamente necessária, a partir da reflexão crítica e do posicionamento ativo, trazendo à luz as institucionalizações históricas como forma de viabilizar uma desconstrução de padrões consciente de suas razões, possibilitando, então, à processual emancipação da mulher, um empoderamento cada vez maior e mais fortalecido sobre sua autonomia e liberdade, legitimando seu lugar no mundo a partir de “uma concepção de mulher definida como sujeito ativo no processo de produção de sua trajetória, portanto, também de si mesma.” (BORGES, 2013, p. 80)

 

2.  MODELO DE FAMÍLIA

 

O conceito de família vem sendo modificado ao longo dos anos e isso se dá pelas características da sociedade, do momento presente e da estrutura social em que os sujeitos estão inseridos (CARNUT, 2014). Assim, como destaca Szymanski (2002, p. 15), família é:

 

Um grupo de pessoas, vivendo em uma estrutura hierarquizada, que convive com uma proposta de uma ligação afetiva duradoura, incluindo uma relação de cuidado entre adultos e deles para crianças e idosos que aparecem no contexto. Pode-se também entender como uma associação de pessoas que escolhe conviver por razões afetivas e assume um compromisso de cuidado mútuo e, se houver, com crianças, adolescentes e adultos.

 

Nesse viés da psicologia, é possível compreender família como um grupo de relações interpessoais, as quais obtém por objetivo a organização e estruturação de preenchimento das contingências básicas da vida biológica e social, tratando-se de um agrupamento humano, sendo muito reconhecido e valorizado pela sociedade (DURKHEIM, 1895).

Um apontamento importante e que é muito confundido atualmente, é que matrimônio significa a união ou vínculo estabelecido entre duas pessoas, reconhecido de maneira governamental, religiosa ou social, enquanto parentesco está interligado à relação consanguínea existente entre gerações, fruto ou não de um processo matrimonial e de constituição familiar (CARNUT, 2014).

Por muito tempo entendeu-se que para haver família, era preciso que houvesse matrimônio; por conseguinte, os membros frutos desse matrimônio, no caso, os parentes, eram a família propriamente constituída. Todavia, nos tempos atuais, o olhar para esse


conceito tem sido reconfigurado, considerando que famílias podem ser constituídas sem haver o matrimônio e muito menos sem que seja preciso haver reprodução (CARNUT, 2014).

 

Segundo Kaslow (2001), família nuclear inclui duas gerações com filhos biológicos e, para ele, a família nuclear é a mais observada e aceita na sociedade. Em síntese, família nuclear é aquela composta de um homem e uma mulher que selam uma união e reproduzem (BRYM, 2006). Popenoe (1988) frisa ainda que o termo “família nuclear tradicional” se trata daquela na qual a esposa trabalha em casa sem ser remunerada, enquanto o marido trabalha fora de casa por um salário. Entretanto, nos dias atuais essa visão vem sendo mudada cada vez mais, deixando de ser o significado primordial atribuído à noção de família.

 

Existe também o conceito de famílias extensas, na qual inclui três ou quatro gerações, sendo compostas pelo núcleo familiar e agregados que fazem parte da mesma unidade (MINUCHIN, 1982). Fonseca (2002) frisa que dentro do conceito de família existem também as adotivas, que são aquelas que decidem adotar um membro que ocupará o lugar de filho e que mesmo não obtendo ligações sanguíneas, será filho do mesmo modo.

 

É importante frisar também que a família dita como “casal” também pode ser considerada como família, na qual é aquela onde existe dois seres que decidem formar uma união, mesmo que sem filhos (CARNUT, 2014). Famílias monoparentais, são aquelas chefiadas por pai (masculina) ou mãe (feminina), ou seja, os filhos vivem com um único progenitor (VITALE, 2002). A expressão “famílias monoparentais” surgiu na França, na década de 70, com referência às pessoas vivem sem cônjuge, com um ou vários filhos com menos de 25 anos e solteiros (LEFAUCHER, 1997). Com o tempo, esse termo vem se expandindo, considerando as altas taxas de divórcio, bem como os índices evidentes de abandono parental (BOUTIN, 1994).

 

É de suma importância destacar os casais homoafetivos (homoparentais), com ou sem crianças; geralmente, essas famílias são constituídas por pessoas do mesmo sexo que têm filhos ou não, e se sim, pode ser que um dos parceiros traga para a relação homosseafetiva os filhos do relacionamento anterior, ou o casal deseja e decide realizar uma adoção, ou até mesmo um dos membros do casal opta por realizar os procedimentos cada vez mais comuns de inseminação artificial (PASSOS, 2008).

 

É fato que existe uma gama de conceituação do termo “família”, mas é consenso que para definir essa conjunção de relacionamento entre várias pessoas vivendo juntas, com ou


sem laços legais, está o forte compromisso mútuo. É possível evidenciar uma clara transformação na instituição familiar, visto que, o objetivo é o surgimento de novos modos de ser entre os sujeitos, partilhados por novas constituições de união que terminarão por constituir novas regras e novos modelos de vida e de convivência na sociedade (BOUTIN, 1994).

 

3.  MATERNIDADE SOLO

 

O termo mãe solo surge nos últimos tempos e ganha visibilidade na era das redes sociais ao retratar o modo de vida que mulheres sendo mães podem ter. De acordo com a socióloga Thuerler (2009), há diferentes aspectos que caracterizam essa experiência, tais como: adoção de uma criança; gestação de filhos por inseminação artificial, sem a  necessidade de um parceiro ou parceira; quando em um relacionamento ocorre uma gravidez e o parceiro não manifesta disposição de assumir a criança, mas a mãe faz a opção de levar adiante a gravidez e ter o bebê como uma empreitada solo; ou ainda, o abandono parental mesmo quando há relacionamento entre os genitores.

 

No Brasil, o número de mulheres que efetivamente optam pela maternidade solo de forma voluntária e planejada ainda representa um número pequeno; tais fatores podem estar associados ao valor financeiro e questões burocráticas que envolvem a realização de tal procedimento, comparada à realidade das mães solo decorrente do abandono ou omissão paterna (BORGES, 2020).

 

De acordo com o IBGE em uma pesquisa divulgada em 2017, em 2005 o número de mulheres com filhos e sem cônjuge alcançava o montante de 10,5 milhões. Em 2015, esse número atingiu a marca de 11,6 milhões, demonstrando o acréscimo de 1,1 milhões. O Conselho Nacional de Justiça (2019) também revela dados que corroboram com essa realidade, haja vista que o relatório do Projeto Pai Presente tomou como base o Censo Escolar de 2011 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), cujo resultado aponta para 5.494.267 milhões de crianças que não possuem o nome do pai em seus registros.

 

Vale ressaltar que durante muito tempo usou-se a expressão mãe solteira para categorizar mulheres que criam seus filhos sozinhas. A expressão mãe solo busca desvincular a maternidade ao estado civil, como destacado por Silva et al (2009), por muito tempo o termo foi tratado sob a visão do controle social nas sociedades patriarcais, assim, mudar a


forma de se referir a essas mulheres visa eliminar o preconceito com as genitoras que não têm qualquer relação com o pai de seus filhos, ou com mães que se separam, ou mães que optaram por viver a maternidade sem necessariamente estar em uma relação conjugal.

Para Borges (2020), outro ponto que merece ser destacado é com relação a expressão “romantizada” atribuídas às mães solo como “mãe guerreira” e “pãe” essa última que representa a cumulação de função de “pai” e “mãe”. Para a autora, isso não apenas revela a ausência do pai, como a própria sobrecarga enfrentada por essas mulheres. Ainda, infelizmente, muitas destas mulheres não contam com uma rede de apoio que possa suportá-las, bem como, a nível governamental, não existem políticas públicas adequadas e disponíveis para o amparo às pessoas em tal contexto, tanto para as mães que são solo, quanto para os filhos que são criados por essas mães.

Há que se falar, ainda, na discriminação da mulher no mercado de trabalho apenas por ser mãe, o que pode ser observado um estudo realizado pela American Journal of Sociology, que apontou que em uma oportunidade de contratação em que as candidatas sejam iguais em todos os aspectos, havendo uma sutil indicação de que uma delas é mãe, a probabilidade da mãe ser escolhida é reduzida em 37% (trinta e sete porcento) (GOLDSTEIN, 2019 apud BORGES, 2020).

Resta claro que apesar do ordenamento jurídico brasileiro fornecer uma série de sustentáculos para possibilitar uma vida digna, justa, igualitária entre homens e mulheres, fato é que as mulheres, sobretudo as mães solo, enfrentam – além da persistente discriminação por não estar inserida em uma relação conjugal – a flagrante dificuldade de subsistência, no sentido de manter a si própria e seus filhos(as), seja por dificuldade de inserção ou pelo preconceito que enfrentam no mercado de trabalho, impactando diretamente no sustento, na educação e na qualidade de vida proporcionada aos filhos(as). (BORGES, p.20, 2020)

 

Borges (2020) acrescenta ainda que o empreendedorismo materno cresceu muito nos últimos anos e está relacionado ao alto índice de desemprego que mães enfrentam, fazendo com que elas se lancem no mercado como empreendedoras, não porque sonham abrir uma empresa, mas por necessidade de reinserção no mercado após a maternidade. Ter igualdade nas oportunidades de trabalho, lazer e tempo para outras atividades parece algo distante, embora movimentos sociais tenham conquistado avanços nesse sentido.

4.  MÉTODO


O estudo é realizado em duas etapas: a primeira parte consiste em uma revisão narrativa da literatura, estabelecida com viés exploratório; a segunda parte, apresenta três (3) entrevistas realizadas com mães solo. Um dado que não pode ser ocultado é que as voluntárias foram convidadas pelas autoras por fazerem parte do círculo social e por se destacarem pela força e luta diária. A partir das entrevistas, a coleta de dados proporcionou uma melhor visualização da realidade do tema, possibilitando a posterior análise e discussão.

 

A partir da revisão bibliográfica do tipo narrativa, o presente trabalho busca perceber e discutir as possíveis relações com a vivência da maternidade solo, identificando suas nuances e interfaces e considerando o tema sob a perspectiva de viabilizar direitos, ampliar a cidadania e evidenciar uma realidade presente nas diversas esferas da sociedade. Diante disso, observa-se a relevância deste, abstendo-se de todas as formas de preconceito e discriminação, trabalhando na defesa intransigente dos direitos humanos.

 

4.1  PROCEDIMENTO

 

Em janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência em saúde pública em razão da Infecção Respiratória Aguda ocasionada pelo Novo Coronavírus (SARS – CoV-2). No mês seguinte, o Ministério da Saúde do Brasil também declarou emergência nacional em saúde pública. Em março, a OMS considerou a situação de emergência no âmbito mundial e oficializou a pandemia. Segundo os autores:

Diante de um vírus, cujo comportamento ainda se desconhece, pouco se pode afirmar e estabelecer padrões de evolução da doença, assim como da assustadora progressão de contágio e número de vítimas fatais (não em função da letalidade em si, mas pela capacidade dos sistemas de saúde de impedir óbitos, efeitos diretos e indiretos do vírus pela necessidade de recursos imediatos para o atendimento às vítimas), as recomendações primárias, o pouco consenso que se pode formar no meio científico e as recomendações estabelecidas pela OMS para o controle da pandemia se convencionaram na prática da higiene preventiva e o isolamento social horizontal (NEY & GONÇALVES, 2020, p. 1-2).

 

Em razão da situação emergencial em saúde pública, o isolamento social passou a ser praticado e todas as atividades passaram a ser executadas remotamente, utilizando-se das ferramentas tecnológicas disponíveis a cada um. Desta forma, o procedimento de pesquisa do presente estudo, que se desenvolveu em tal período, adequou-se às necessidades vigentes e se estabeleceu de maneira remota em todas as etapas.

Para a realização das entrevistas, foi agendado com cada uma das três voluntárias uma data e horário individuais. As mesmas puderam ser realizadas por meio de chamada de vídeo,


tendo como plataforma escolhida o Google Meet. Ainda, estas foram gravadas com autorização verbalmente comunicada pelas entrevistadas, de forma que as entrevistas pudessem acontecer de maneira genuína e sem interrupções, sendo posteriormente transcritas e as gravações, realizadas somente para tal fim, descartadas. A realização das chamadas de vídeo teve uma média de uma hora (1h) de duração cada uma e a transcrição foi desenvolvida seguindo o modelo não-naturalista (AZEVEDO, et al; 2017), propondo-se a apresentar as falas originais das voluntárias, sem necessariamente compor-se incluindo as características ambientais do momento da entrevista.

4.2  INSTRUMENTO

 

Por meio da Internet, é possível alcançar inúmeros espaços em curtos períodos de tempo. Para Flick (2009), pesquisas acadêmicas podem se desenvolver satisfatoriamente e alcançar resultados consistentes por meio dos espaços e ferramentas possibilitados pela Internet. Desta forma, as entrevistas realizadas de forma remota foram elaboradas seguindo o método de pesquisa qualitativa, tendo como composição onze perguntas disparadoras elaboradas pelas autoras, a fim de encaminhar os relatos concedidos pelas voluntárias. O roteiro com as questões elaboradas segue anexado no apêndice A.

4.3  ANÁLISE DE DADOS

 

Para perceber e compreender o fenômeno proposto, a análise de dados está baseada em aspectos qualitativos e quantitativos e se desenvolve sob uma perspectiva psicossociológica e à luz da teoria das representações sociais, a fim de perceber as semelhanças das narrativas colhidas e suas influências a nível individual e mútuo.

Para melhor visualização e compreensão dos dados coletados, foi utilizado o software IRaMuTeQ, por se tratar de uma ferramenta múltipla que oferece diversas formas de organização e percepção das narrativas a partir da estatística textual, além de ser um programa gratuito e utilizado em diversas áreas do conhecimento (SOUSA, et al; 2020).

 

5.  RESULTADOS

 

5.1  RELATO 01


Elisa5, 25 anos, Ensino Superior Incompleto, Operadora de caixa, primípara aos 24 anos; vive com o filho, os avós e a irmã.

 

Eu não me tornei mãe solo por escolha. Quando eu descobri, já fui falando pra ele “Olha, atrasou, vou fazer o teste”6, explicando tudo... Ele falou: Não, não é possível... Meu deus... Como assim?... Não, não tem outro jeito? Tipo assim... Insinuando pra eu tirar o bebê, né?7 Surtou! Sumiu do mapa... desapareceu. [...] No processo da minha gestação, desde o começo eu sabia que o pai do João não iria estar ali, porque ele rejeitou a gravidez desde o primeiro momento. Por causa disso, na minha experiência... eu não esperei, não criei expectativas. Sinto que poderia estar ali sozinha e eu acho que aguentaria... É claro que minha família não iria permitir isso, mas... entende? Eu não senti falta, não avisei ele que estava em trabalho de parto, nem nada... só quando nasceu, minha irmã foi e falou... minha tia, não lembro... ligou pra ele, falou e pronto. Só isso. [...] Teve uma parte de pessoas que super me apoiou e outra que me excluiu... no meu convívio religioso, e isso me deixou muito... muito frustrada mesmo. Tinha gente que, antes, eu chegava na paróquia e conversava comigo normal... depois que eu engravidei, minha barriga foi crescendo e eu não parei de ir, né? Não me escondi, nada... A pessoa olhava assim e nem me cumprimentava... parecia que eu não existia. [...] Eu vivo a maternidade com o João vinte e quatro (24) horas por dia, como se não houvesse amanhã. Eu sei que tem mães que ficam em casa com os filhos enquanto o marido vai trabalhar, praticamente sozinha, lidando com essa rotina... o que é quase igual, porque querendo ou não, o marido só tá na parte da noite... e a parte da noite dura muito pouco, né?, tem muito pouco contato... e essa mãe tem que fazer tudo sozinha. Então, acho que não tem comparação, porque a mulher acaba vivendo essa maternidade sozinha. [...] A gente foi no ministério público pra ele pagar a pensão dos direitos gravídicos... Aí a gente foi, buscou e tudo... e ele começou a pagar no terceiro mês. Ele só cumpriu com as obrigações jurídicas... porque ele estava surtado ainda. Aí a gente foi no advogado e ele entrou com uma ação pra fazer um acordo... aí a gente assinou, ele tinha que pagar quinhentos reais (R$500,00) todo mês... e quando ele se referia ao João, ele dizia “a criança”, “quando a criança nascer”...  nunca falou algo do tipo “o bebê”... nada afetuoso, nada carinhoso, nada. Ele não contou para


5 Os nomes aqui citados são todos fictícios, buscando preservar a identidade das voluntárias e das pessoas citadas em suas narrativas.

6 Convencionou-se que a fala de pessoas citadas pela entrevistada, serão descritas em itálico; relato de pensamentos ou exemplos citados pela entrevistada, serão descritos entre aspas. Excetuando-se estas situações, está a fala da entrevistada.

7 A linguagem apresentada segue o estilo de linguagem das entrevistadas, mantendo a fala original das mesmas. Ex: concordância, gírias, linguagem coloquial, etc.


os pais, para a família... ele escondeu a gravidez inteira. Eu que fui na casa dele contar pra os pais dele quando o João já estava com três (3) meses. Ele nunca veio visitar o João... Os pais dele vêm hoje, mas ele nunca veio... foi na maternidade duas (2) vezes, só viu o João duas (2) vezes, quando o João era recém-nascido... Depois, nunca mais. [...] Por exemplo: ser mãe e pai ao mesmo tempo, porque eu sou... no profissional, a faculdade que eu tranquei e muitas pessoas falam “Ah... mas por que você trancou?”... Mas eu acho que não ia dar conta de ir pra faculdade a noite, com tudo que aconteceu durante a gravidez... não ia dar conta, não ia ter cabeça. Hoje eu vejo que posso ter me arrependido um pouco, sim... de ter trancado. Não sei como vai ser, se eu vou voltar... eu quero muito voltar, mas não sei como vai ser... E as questões lá na frente, de tudo, quando ele começar a entender as coisas, começar a perguntar... quando a escola começar a perguntar “Ah... e a relação com o pai dele?”... porque ele pode até não sentir falta, mas eu tenho certeza que a escola vai plantar a sementinha. [...] A minha personalidade, eu vi que mudou muito.. Eu vejo que nisso eu mudei um pouco e a maneira de pensar, sabe? Seus objetivos, o que você quer lá na frente... Tudo você pensa que é só pra ele  e que é só por ele... Eu tô nessa situação, por exemplo... que agora eu não posso ficar por muito tempo, porque tenho o João. Eu tenho que, sei lá... sair do serviço ou procurar outro, voltar pra faculdade e me encaminhar pra frente... pra frente, só para frente... porque ele vai crescer pra frente também e eu tenho que estar com ele. [...] É difícil... em questão de tudo, sabe? Vou citar exemplos: eu tô solteira, mas lógico que meu sonho é casar, construir minha família, tudo... e por exemplo: pra eu arrumar um companheiro, lógico que eu vou pensar no João pra começar a procurar alguém... a pessoa tem que gostar do meu filho pra eu começar a conversar com ela. Tipo assim... Muito julgamento que a sociedade tem… que nem a avó, por exemplo, do João: Ah... mas você vai casar? Você pensa em ter mais filhos?... Tipo… O fato de eu ter um filho empacou minha vida, entendeu?... Não! Não é assim. Esses tipos de pensamento... O fato de eu ter um filho não quer dizer que eu não possa viver a minha vida!... Esses dias na consulta, meu psiquiatra estava falando isso pra mim, que ele vai trabalhar comigo, agora, os autos: autoconfiança, autoestima... os autos, porque ele vê que eu preciso disso pra eu saber que posso, que eu consigo ser a pessoa que eu quero e pra eu me enxergar como eu deveria estar me enxergando. Passei por tudo isso sozinha e ninguém precisa ficar tentando me provar isso o tempo inteiro e eu me frustrando toda vez com isso, de querer ser reconhecida o tempo inteiro... Ele falou alguma coisa assim: As pessoas têm que reconhecer tudo que você passou pra se aproximar do João?... Porque você passou sozinha... Porque você viveu tudo sozinha... Não desmerecendo nada do que você passou, mas isso me preocupa, porque é uma falta de autoestima que você agora, é uma falsa autoconfiança.


De tudo isso eu vejo que é só um detalhe, ser mãe solo é só um detalhe... É só... como se diz... um chantilly no morango! É isso... Não se enquadra em um status. Só que as pessoas veem isso como “meu deus!”... A sociedade está em um lado, a mãe solo está em outro e ela tem que permanecer lá, não tem que se agregar à sociedade. Só que você pode fazer tudo, você é capaz de tudo, você pode conquistar tudo… sendo mãe solo. [...] Antes eu era muito... assim... uma menina chorona, sabe?... por coisas alegres e coisas tristes... Dá pra contar nos dedos as vezes que eu chorei desde a gravidez até agora. Teve vezes, sim... mas foram muito poucas. E aí eu vejo que eu sou uma pessoa, hoje, muito forte. Não é que eu não choro mais... porque agora eu ressignifico as coisas. [...]

 

5.2  RELATO 02

 

Laura, 28 anos, Ensino Superior Completo, Médica veterinária, primípara aos 27 anos; vive com a filha, a mãe, o pai e a irmã.

 

Eu nunca tive um relacionamento com o pai da Maria. Nós ficamos por um mês, mais ou  menos... e eu acabei engravidando. E quando eu descobri estar grávida, a gente nem ficando estava mais. Ele quis casar, ele quis sim... mas eu não quis, não... não deu liga, não gostei, não me apaixonei. Então, assim… Eu falei “Não!”, ele falou: Ah... é porque eu vou te pedir em casamento e tudo, e eu falei “Não! Eu não quero, eu não gosto de você... Somos dois adultos que vamos ter uma filha. Vai ser isso.” Foi escolha minha. Poderia ter aceitado. Foi escolha minha sim... Falar que não faz falta é mentira, porque no financeiro a gente sempre dá um jeito, mas faz falta você deitar na cama e não ter alguém ali... Esse tipo de carência, né? A gente entra numa carência, mas não acho que um relacionamento faz diferença, não acho que faria diferença no momento. Não faço questão nenhuma. [...] Foi. Assim... Quando eu era casada e eu tinha um relacionamento, eu sonhava com aquelas fotos de família, sabe? A mulher grávida e o cara junto..., mas eu tive consciência de que isso não ia acontecer. Quem esteve comigo no acompanhamento de doulagem e tudo, foi a minha mãe, eu optei por  escolha e já de primeira... a minha mãe, porque como foi parto normal, eu acho que é algo muito íntimo… então, como eu não tinha essa intimidade com o pai da Maria, eu falei “É minha mãe!”. Foi ela quem me acompanhou em tudo, em todos os encontros, nas fotos, nos médicos… era sempre a minha mãe, sempre ela. O pai da Maria foi em dois (2) ultrassom quando ela era bem pequenininha, ainda na barriga... e só. Ele foi, assim... atencioso... entre aspas. Ele perguntava como eu tava, esse tipo de coisa “E aí, você tá bem?”. A impressão que eu tinha quando vinha essas perguntas “Laura, tá tudo bem?”, era que ele estivesse esperando


uma resposta de que não estivesse, sabe? Quando você entende que a pessoa quer que você responda “Não, não está tudo bem.” Sei lá, tipo... “Preciso de você!” ou alguma coisa assim. Essa era a impressão que eu tinha. Eram perguntas que não tinham um diálogo... não estava perguntando realmente como eu estava, não tinha um desenvolvimento de diálogo. [...] Julgamento não, mas assim... olhares. Tipo assim... O meu padrinho Carlos e a minha madrinha Juliana diziam: Ah... mas você não vai nem tentar? Tipo assim... Preconceito, né? Eles falavam: Ah... a madrinha acha que você deveria. O padrinho acha que você deveria. Tive essas perguntas assim, mas julgamento não. “Tá bem filha, sozinha?” – “Tô bem sozinha” – “Então tá tudo bem”. Eu não tive, assim... apontando “Ah... mas é errado! Como você vai ter uma filha e não vai ter alguém, um cara?”. Não tive. [...] Eu fiz acompanhamento. A única mãe solo que tinha era eu, dentro de mais ou menos quinze a vinte (15 a 20) mulheres. Eu era a única solo, tanto é que todas as mães que iam em dias que tinha acompanhante, iam com o marido... eu ia com a minha mãe, né? E lá era todo o apoio psicológico e físico, a gente tinha acompanhamento de enfermeira, fazia exercícios... eu me preparei pra o parto normal e foi lá onde eu fiz esse acompanhamento. Eles estavam bem próximos da gente, dando todo o suporte psicológico que a gente precisava... Eu paguei por isso, né? ... Tive momentos de balançar, tive sim... quando estava mais no final da gestação, que acho que é aonde a gente vai meio que caindo a ficha, né? ... mas eu tive sim, porque quando eu fui casada, como eu falei... eu sonhei com isso, então, eu pensava “podia ser diferente”, “não era assim que eu queria”, “não foi assim que eu imaginei”, “não foi assim que eu planejei”... Então, assim... A gente balança, sim... com certeza absoluta. [...] Já, com certeza. Várias vezes... O grupo em que eu fiz o acompanhamento do parto... a gente ainda é um grupo, um grupo de apoio de mães, então a gente tem contato. Temos grupo no Instagram, nos falamos praticamente todos os dias, uma dando apoio pra outra, dando dicas, essas coisas... Então a gente compara bastante. O que eu mais comparo, vou falar em específico, o que eu dou graças a deus, é que elas reclamam muito de marido... O grupo é de mãe chorando que o marido não ajuda, que o marido não faz nada, que o marido não colabora em p#%!&8 nenhuma... Então eu entro na comparação e eu falo “Graças a deus eu não tenho ninguém pra me atrapalhar nessa parte!” [...] Foi, no começo... quando a Maria nasceu. Ele veio aqui em casa, foi pro hospital, foi pra maternidade... Eu tive que ficar de um dia pro outro no hospital porque a Maria tem um sangue diferente do meu... ela é positiva e o meu é negativo, então a gente teve que esperar um dia... e ele foi no hospital depois que ela nasceu... viu ela, pegou, ficou durante o dia, passou o dia, deu o primeiro banho nela... foi ele quem deu... e à noite

8 Os palavrões utilizados pela entrevistada encontram-se no texto descaracterizados. Por exemplo: c*#@%.


minha mãe ficava comigo, dormia comigo... e ele ia embora no outro dia. Ele voltou, saiu da maternidade  comigo,  veio  aqui  pra  casa  e aqui em casa ele ficou mais ou menos uns quatro

(4) dias dormindo, aqui em casa... o que na verdade não fez diferença alguma, porque eu deitava na cama com ela e ele dormia no chão... mas assim, ele dormiu a noite toda... falar que ele levantou algum dia pra... por exemplo: fazer o bebê arrotar ou alguma coisa assim... não levantou... E aí no quarto dia eu pedi pra que ele... assim... que se ele quisesse vir, que ele viesse durante o dia, ficasse com ela e fosse embora a noite, porque aquilo... assim... já tava me sufocando... Não é meu marido, entendeu? Não é nada meu, a gente não tem essa intimidade pra ficar aqui, dormindo... Então eu pedi pra ele e foi aí que ele mudou. Ele mudou totalmente a chave, foi embora bravo nesse dia, simplesmente saiu, bateu o portão e a partir desse dia ele mudou. Perguntava bastante pelo WhatsApp, mas começou a fazer umas visitas bem espaçadas... assim, com a Maria ainda pequenininha, né? ... bebezinha. Aí depois disso, ele a viu com dois (2) meses, aí depois viu com quatro (4) meses, aí depois viu com oito (8) meses e depois de oito (8) meses não viu mais. Ela já tem onze (11) meses... Nunca mais viu. [...] Sim! Assim... A gente pensa muito mais e se preocupa muito mais. Se eu não tivesse a Maria, o dinheiro todo que eu ganho era meu, né? ... era pra mim. Eu podia estar, sei lá... fazendo uma viagem pra praia hoje, calor do caramba, né?... Digamos..., mas não, isso pesa, assim... pesa também no financeiro, né? Porque assim, eu tenho três (3) empregos hoje pra tentar ver se sobra alguma coisa, às vezes... mas não consigo... Mas pesa no psicológico, porque eu já penso “Bom, ano que vem ela já vai ter um (1) aninho e pouco, ela vai pra escola... E o dia dos pais, como que vai ser na escola?”... Tá entendendo? Já pensa lá na frente... Aí já foi, já perdi pelo menos umas quatro (4) horas de sono, já perdi... Entendeu? Preocupa... Esse tipo de coisa pesa... Eu tive um pai muito presente, tive um pai fantástico, presente mesmo... coisa que a Maria não vai ter. Ela tem o avô? Tem..., mas não é o pai. Então, acho assim... que fica um buraquinho e isso me preocupa. Pesa a responsabilidade. Penso nisso todo dia... Pesa sim. [...] Sim! Muito! Muito! Muito... O lance das fotos, né? A gente vê aquelas mulheres barrigudas, naquelas fotos maravilhosas e fantásticas e pra mim é extremamente romantizado. Eu, pelo menos, na minha gestação... eu sentia muita dor. A Maria encaixou muito cedo, então eu sentia muita dor na vagina, sentia muita dor na lombar... Isso não é falado, sabe? Não é passado. Tudo “Ah... é lindo! É perfeito!”... É divino! É divino! Mas eu acho que é pintado como mágico e não é mágico. É dolorido... é dolorido psicologicamente falando, é dolorido fisicamente falando... Eu acho que é extremamente romantizado... demais... demais! Acho que tem que ser desromantizado, porque a gente cria cenários, a gente cria expectativa e quando a gente cria expectativa, a gente se frustra com


aquilo que não bateu com o que a gente criou na cabeça... Então você tem que destruir toda uma imagem que você tinha da gestação, do parto... Eles passam, por exemplo, onde eu fiz o acompanhamento do parto... serve pra o preparo da mulher e lá é onde mais se romantiza a porcaria do parto, do relacionamento... Uma coisa muito falada é que assim... lá na hora do parto, como a gente meio que entra em Nárnia, a parte da frente do cérebro dá aquela desligada... eles falam assim: Nesse momento a única coisa que você vai querer é o toque do seu marido, é só o seu companheiro que vai te acalmar nesse momento. Entendeu? Aí lá eu falava: “Ah... às vezes pode ser o toque da vovó também, né?”... Eu dava essa jogada, entendeu? Aí elas começaram a incluir a vovó dentro das falas. Antes, não ia avó como acompanhante... ou era o companheiro ou não era ninguém... agora, vão muitas avós. Tem mulheres que preferem que a mãe acompanhe do que o marido... Já tá tendo essa abertura. Porque gente, de verdade, o parto... assim... é uma coisa horrorosa, não é lindo igual a gente vê em filmes e novelas... aquele parto, o bebê saindo e chorando, a mãe emocionada… P#%!&, é ridículo! Você tá em uma posição horrorosa, sua vagina abre “desse tamanho!”... Quem você quer? Cara... Ninguém mais... O dia que eu precisar de alguém para me limpar, será a minha mãe... não é mais ninguém. A mãe não tem nojo da gente. Mãe é mãe. Eu vejo assim... E lá era uma coisa assim, que “Ah... você vai querer o toque do seu marido, vai ser o seu companheiro para fazer a massagem”... Ah... Vai te lascar!... Eu tive uma conexão fantástica com a minha doula, ela foi maravilhosa em tudo que você imaginar. Então, pô... a minha conexão... a minha mãe tava ali, porque eu sabia que ela tava ali se precisasse de alguma coisa..., mas a conexão que eu criei foi com a minha doula, foi uma sintonia fantástica. Não precisei de um companheiro pra parir bem. [...] Além da rotina, do financeiro, etc… o físico. Assim… Eu acredito que isso seja até um pouco de depressão... não a pós-parto, depressão minha mesmo..., mas assim, eu tenho uma extrema dificuldade em me olhar no espelho. Eu tô vinte e um (21) quilos mais magra do que quando eu engravidei da Maria, contando os sete (7) quilos da gestação... que eu engordei só sete (7) quilos... Mas eu não me olhei mais no espelho... A minha barriga rasgou de estrias e é algo que me machuca. Essa parte do físico me machucou bastante, bastante mesmo... eu tenho essa dificuldade de me olhar no espelho. Pelada, não me vejo. Grávida já eu pedi pra minha mãe tirar o espelho do meu quarto. Porque assim... eu fui uma grávida que só teve aquela barriga, não era um super barrigão... mas eu acho que... por exemplo... até os cinco (5) meses eu usava as mesmas calças jeans que eu usava antes de estar grávida, então, assim... acho que o psicológico fez com que minha barriga não estufasse, porque querendo ou não... não era uma coisa que eu queria mostrar, né? Eu não tinha orgulho de estar grávida, não era “Nossa! Eu vou ter um


bebê! Que massa!”... Não foi assim, né?... Eu fui uma grávida magra mesmo... E machucou um pouquinho... Não sou a mesma. Com relação às amizades, eu acho que as que eu já tinha se fortaleceram... mas assim... a Laura de hoje, é uma Laura um pouco mais nervosa... eu me sinto mais na pilha, mais estressada, mais nervosa, mais preocupada... Porque tem que dar certo, porque tem que ser bom... Eu demoro um pouco mais pra relaxar, entendeu? Eu não relaxo, não me vejo tranquila, relaxada... Eu era mais tranquilona, sem muito horário… hoje sou um pouco mais rígida. [...] Eu me sinto muito mais fortalecida, eu me sinto muito mais... Eu acho pesado você colocar a responsabilidade da sua força de vontade em cima da criança, mas assim... tenho que falar “É isso!”, entendeu?... Eu levanto e eu vou atrás, eu corro atrás, porque eu tenho a Maria! Porque senão, eu estaria relaxada, né? Tranquila, como eu estava antes. Então eu me sinto mais forte, com uma garra muito maior, com uma vontade de querer crescer e ser melhor, porque eu quero que minha filha tenha um bom exemplo... Eu quero ser o suficiente pra ela, entende? Eu quero que no dia de amanhã ela vire pra mim “Ah... seu pai não tá”... e ela diga “tá tudo bem”... Não assim... porque faltou... porque isso é, sei lá... um peso... Eu quero ser o suficiente pra ela... pra que esse buraquinho seja preenchido o máximo que eu puder, entendeu? [...] O relacionamento antes do pai da Maria foi um relacionamento criado em cima de expectativas e eu tive que destruir todas sozinha. O pai da Maria... teve o não gostar? Teve... mas teve também muita mentira... ele mentiu muito, muito, muito pra mim... e por alguns segundos eu acreditei... Aí eu tive que destruir mais uma vez um cenário. Então, não espere nada do outro, não crie expectativas... Eu acho que a partir do momento que a gente não cria expectativas, a gente não se frustra... Quero dar o meu máximo, onde eu posso, dentro dos meus limites..., mas sem esperar nada de ninguém... sem esperar do pai, da avó, da própria criança... sem esperar nada, simplesmente deixar acontecer, sem criar expectativas... E a gente é solo, mas a gente não tá sozinha, né? Eu tive uma rede de apoio maravilhosa, então sempre tem com quem contar... uma escola, um professor, um amigo...  que seja. Hoje o que eu sonho é ter a minha casa com a Maria... e apoio, eu acho que hoje a gente já tem essa rede de apoio e a gente pode ter isso, a gente pode contar com um psicólogo, com profissionais que possam ajudar e orientar... Eu adoro ser mãe solo.

 

5.3  RELATO 03

 

Alice, 36 anos, Ensino Superior Completo, Assistente social, primípara aos 24 anos; vive com a filha.


Foi só porque eu me separei… quando eu tava grávida, e foi muito difícil. Eu era casada e não foi planejada, a gestação... Aconteceu de eu ficar grávida, mas a gente ainda não tinha planejado ter filhos, a gente pensava na ideia mas não tinha planejado ainda... Ele aceitou a gestação mas não ficava me curtindo, curtindo minha barriga, nem nada… até porque eu tava de três (3) pra quatro (4) meses, não aparecia barriga, então, parece que ele não tinha caído a ficha ainda... mas pra mim, eu já tava sentindo muita mudança no meu corpo. [...] Muito julgamento, muito preconceito... e por parte de mim mesma. Eu me julgava e eu tinha preconceito, porque ele colocou pra mim, a vida inteira, enquanto a gente morou junto... A gente via os amigos dele, os nossos amigos que tinham filhos e depois separavam, tinha que pagar pensão... Ele sempre falava que as mulheres pegavam o dinheiro dos caras e iam beber cerveja, iam ficar com outros caras... que mãe solteira não prestava, que mãe solteira ninguém ia querer mais porque já tinha um filho... Ele falava muito mal de mãe solteira… E aí, eu me vi como uma mãe solteira. Aí, pra mim, acabou a minha vida. Ali eu achei... na minha cabeça... que eu nunca mais ia ter um relacionamento, que eu ia ficar mãe solteira pra sempre. Eu não me valorizava, porque eu tinha a ideia de que eu era uma pessoa à margem da sociedade, uma pessoa que tava ali... naquela situação de mãe solteira e não podia mais interagir socialmente, como uma pessoa normal. Aí foi quando eu comecei a fazer a terapia, a Isabela tinha um (1) ano e meio. Eu só saía pra ir pra faculdade e pra trabalhar. Eu não tive ninguém, eu queria focar mesmo na minha faculdade... terminar minha faculdade e fazer um concurso... e consegui, né? Me superar pra eu me sentir alguém, porque quando eu terminei com ele eu me senti um lixo. Ele mesmo, nas brigas, falava que eu era um lixo... Então, eu... eu internalizei isso e eu achava que eu era um lixo. Então, a minha meta era eu ser alguém, eu provar pra mim mesma que eu não era um lixo. [...] Minha mãe sempre foi a minha rede de apoio: financeiramente, psicologicamente... eu morava com ela... E por trabalhar no posto de saúde... eu era agente de saúde... a gente tinha grupos na unidade de saúde para as mães, para as crianças, e eu participava dos grupos, que era o meu trabalho... mas ali fui tendo apoio também, das colegas de trabalho… A gente, fazendo os grupos, depois que implantaram a  rede disciplinar, com assistente social e psicólogo, pro posto... A gente tinha o grupo de autocuidado que a gente fazia com a comunidade, e eu sempre participei e isso me ajudou bastante, até porque eu também já tava fazendo terapia… Foi uma das redes de apoio. [...] Sim, eu mesma já me comparei. Carrasca de mim mesma, sempre me analiso. Eu falo “Nossa! A mãe que tem uma família, tem mais tranquilidade, porque ela tem uma ajuda.” Eu vivo louca, vivo depressiva, vivo estressada... Se eu tivesse uma família, quem sabe, eu não seria tão aloprada assim, né? Preocupada, ansiosa... de ter que dar conta de tudo. Eu mesma, às


vezes, faço essas comparações. [...] Ele ia visitar a Isabela quando ela nasceu, levava fraldas... Só que, depois que eu saí da quarentena, toda vez que ele ia ver a Isabela, ele queria ficar comigo... Aí eu falei “Não!”. Chegou um ponto que eu falei “Olha, eu não vou ser a outra. Eu gosto muito de você, eu entendo você como meu marido, mas se você tá casado com ela, você tá morando com ela… e você quer ficar comigo? Eu não quero ser sua amante! Então você não vai mais ficar comigo!”. Aí eu bati o pé que não... que não queria mais ficar com ele. que aí, ele parou de ir ver a Isabela. [...] Ele foi me procurar em casa e falou assim Ah... porque a gente não volta? Né? Vamo criar nossa filha!, aquele mesmo papo de sempre… ela já tinha sete (7) anos, eu já havia ficado todo esse tempo longe dele, ele já havia tido um monte de relacionamento e eu não havia tido mais nenhum... estava bem carente e acabei ficando com ele. Só que aí, falei assim: “Não! Não é isso que eu quero pra minha vida! Tive uma recaída, mas a gente não vai ficar mais!” Aí, ele parou de pagar a pensão de novo e voltou com a mulher... só que aí, ele não quis mais pagar a pensão... ele falou: Eu não vou mais pagar!... porque antes, a mulher que fazia ele pagar, pra eu não encher o saco. Aí, eu falei: “Se você não pagar, você não vai levar a Isabela.” Então, ele acha que foi eu que afastei a Isabela dele... porque quando ela tinha quatro (4) anos, ele foi até preso e teve que pôr tudo em dia, e essa mulher dele que tava ajudando a pagar a pensão... Aí depois dessa briga que, eles largaram e voltaram, ele falou que não queria mais pagar a pensão porque eu não deixava pegar a Isabela. Eu não deixava pegar a Isabela porque ele não tava pagando... Aí ficou essa briga. Uma vez... que eu deixei ela ir, porque ela queria ir... foi logo que nasceu o bebezinho deles, ela queria ir conhecer o irmão dela. Eu falei: “Tá bom, então vai!”; a pensão tava atrasada, mas eu deixei ela ir porque era na casa da avó… Aí ela foi e quando chegou em  casa, ela falou assim: Mãe, eu não quero mais ir na casa da minha avó nem na casa do meu pai, porque meu pai não dá atenção pra mim... meu pai não conversa comigo, meu pai só fica com o bebê no colo e não dá atenção. Então eu não quero mais ir lá! Então, eu falei “Pronto! Então não vai.” Aí ficou como – ela não quis mais ir – e não como se eu não tivesse deixado... Pra ela! Pra ele, eu não deixo ela ir. Depois disso ele nunca mais procurou pra pegar e ela também não quis mais ir... aí ficou cada um pro seu lado. [...] Eu me sinto muito... muito sobrecarregada. Eu me sinto muito cansada, às vezes nem tanto fisicamente, porque agora estou fazendo exercícios, então minha disposição física é outra… mas a minha questão psicológica... às vezes eu preciso ficar na “caixa do nada”, mas eu não consigo, eu fico ligada vinte e quatro (24) horas por dia porque eu tenho que pensar em tudo: serviço, casa, namorado (agora, noivo), arrumar o carro, arrumar a casa, fazer compras e tudo... Tudo sou eu. Me sinto muito, muito sobrecarregada. [...] Eu acho que é por isso que às vezes eu tenho tanto atrito


com a Isabela. A gente tem, lá em casa, porque eu... por ser muito sobrecarregada com tudo, eu não tive esse romantismo com a maternidade, porque foi muito pesado pra mim. Eu criei ela com muito amor, mas eu não acho romântico a maternidade. Eu sempre tive muitas responsabilidades, então, eu não pude curtir o romantismo que é aquela coisa de maternidade, entendeu? Por isso que eu... eu falava pra mim mesma que eu nunca mais eu ia querer ter filho, porque foi uma experiência horrível... porque você sustentar um filho sozinha e essa carga emocional que você tem, esse peso todo de ser a responsável por educar, transmitir valores e princípios e tudo… É muito, muito estressante. Então, eu não vi aquele prazer de ser mãe, daquele carinho todo. Eu até tenho dificuldade, porque eu sou muito rígida com a Isabela, eu cobro as coisas dela: fazer tarefa, arrumar o quarto, me ajudar a arrumar a casa, me ajudar de alguma forma, né? Agora que ela tá crescendo e às vezes eu paro e penso: “Nossa! Às vezes eu sou tão rude com a minha filha. Eu podia ser uma mãe mais carinhosa.” [...] Eu não pude mais curtir um momento só meu. Eu nunca mais curti um momento “só a Alice”. Na verdade, é aquela questão... de você não se identificar mais... Eu não sei mais quem é a Alice. Eu só sei quem é a mãe da Isabela... porque eu não... eu não sou mais a Alice, eu só sou uma mãe, uma responsável por uma casa, por uma família... por mais que eu tive minha mãe ali, que me dava apoio... mas eu não tive mais... eu não sei mais o que eu gosto, eu não sei mais das coisas que me dão prazer, porque tudo que eu faço é pra ela, é pra casa, é pra tudo, entendeu? [...] É um desafio muito grande. É um desafio porque... na verdade, assim… como eu falei, né?... Eu sou a carrasca de mim mesma, então eu sou a que mais me cobra, a que  mais me julga... Nunca tive dificuldade de alguém fazer isso, mas eu sinto que eu tenho uma responsabilidade não só comigo, com a minha filha... mas na sociedade... de mostrar pra todo mundo que eu não virei uma encostada, que eu não virei uma dependente de pensão, que eu... que eu me superei, né? Eu estudei, eu me formei, eu consegui um trabalho na área em que eu me formei, por mérito só meu, porque eu mesma quis, né?, provar pra mim mesma que eu não era um lixo… E essa carga é muito pesada, sabe? É um desafio. [...] Eu passei por todas as fases e tô num momento onde vejo que me superei, eu venci... mas pra mim, ainda tenho que batalhar muito, porque ainda quero ter uma família de verdade… é o meu sonho. Depois de tanta terapia, estou me permitindo ser Alice, estou voltando a perceber o que eu gosto de fazer, as coisas que me agradam, os momentos onde eu relaxo… Eu me permiti ter um relacionamento novo, e tá sendo muito desafiador, porque eu tenho muitas crenças em relação aos homens... porque eu sofri muito, então, tá sendo um pouco difícil... mas se eu quero e sonho em ter uma família, eu tenho que vencer esses desafios todos… Eu acho que eu sou uma vencedora, uma pessoa que conseguiu, porque uma pessoa que queria realmente morrer...


eu queria morrer… só não fiz nada por conta da minha mãe que não deixou e por conta da minha filha… mas eu me sentia um lixo e eu queria morrer! E hoje eu venci! Eu venci tudo isso... Eu tenho orgulho de mim hoje, eu tenho orgulho do que eu sou, do que eu me tornei, do que eu posso proporcionar pra minha filha... e o próximo passo é só ter uma família, pra eu acabar de ser feliz completamente… Mas eu já me considero uma vencedora.

 

5.4  REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DOS RESULTADOS DAS ENTREVISTAS

 

Como procedimento de visualização das articulações das narrativas apresentadas pelas entrevistadas, foram geradas, a partir do software IRaMuTeQ, as formas de análise Classificação por Método Reinert, Nuvem de palavras e Análise de Similitudes. No entanto, apesar de fazerem parte deste processo, foi decidido que somente a última iria compor a análise como ferramenta visual suportiva à discussão desenvolvida neste estudo. A mesma se encontra disponível logo abaixo; as demais, encontram-se dispostas nos apêndices B e C.  Com o uso dessa ferramenta, caracteriza-se uma pesquisa mista (qualitativa/quantitativa), esboçada anteriormente, que pretende utilizar o que é mais sensível e fidedigno de cada método para melhor visibilidade dos achados obtidos.

Para que a análise fosse suportada pelo software IRaMuTeQ, as narrativas aqui apresentadas foram organizadas em um único corpus textual, sendo subdividido em três (3) tópicos seguindo a quantidade de relatos, para que fossem extraídas as composições de linguagem. Para essa extração, é necessário que o corpus textual seja construído conforme o padrão do software IRaMuTeQ, excluindo caracteres não legíveis, como: @, %, …, vícios de linguagem como “né” ou “ah”, entre outros. Este procedimento possibilita uma análise da linguagem utilizada, suas possíveis correlações e frequência, fornecendo análises estatísticas a partir da composição do corpus textual. Para isto, o software se ancora no sistema R e se organiza no sistema de linguagem Phyton (CAMARGO, JUSTO; 2013).


 

 

Figura 1 Análise de similitudes Fonte: Campos, Costa, Guimarães (2020)

As interpretações realizadas baseiam-se na abordagem psicossociológica. A perspectiva das narrativas de vida, aqui considerada como um dos métodos utilizáveis pela psicossociologia, busca analisar as interações existentes entre os aspectos subjetivos, familiares, sociais e históricos (PINTO, CARRETEIRO & RODRIGUEZ; 2015), destacando as contradições, os conflitos e os pontos de articulação entre várias dimensões que a atravessam. A perspectiva das narrativas de vida, ao fazer falar e ao oferecer uma escuta ao que se conta, pode proporcionar ao narrador a ressignificação de sua história por meio das lembranças e das fantasias que fazem parte da construção de seu relato, possibilitando, em


muitos casos, a produção de uma história reconstruída e talvez da produção de outro projeto de vida à medida que compreende sua realidade subjetiva e coletiva atual.

 

A análise de similitudes, apresentada na figura acima, permite-nos observar organizações de coocorrências de palavras e expressões. A partir do núcleo central, ramificações são constituídas seguindo classes formadas pelos termos em sua similitude de significado e contexto que caracterizam. Podemos perceber que a palavra Não (fundo cor salmão), demonstrou-se presente em maioria, estando apresentada, na figura 1, posicionada no núcleo central das ramificações e, ainda, na mesma classe de palavras como gestação, bebê e barriga, evidenciando as narrativas das entrevistadas, que discorreram sobre a não aceitação ou falta de participação dos genitores quanto à paternidade; assim como as palavras superior e primípara (fundo cor azul), que se encontram juntas em uma das classes, remetem-se aos termos que configuram características sociodemográficas das entrevistadas, apresentadas ao início de cada relato. As palavras família, viver, sonho e vencer (fundo cor de rosa), encontram-se reunidas em uma classe, o que nos remete às falas das voluntárias, quando discorrem sobre seus anseios futuros e sobre como enxergam sua trajetória na maternidade, pois apesar das dificuldades e desafios, sentem-se vencedoras por, de forma resiliente, conseguir fazer mais do que imaginavam, estando solo.

 

Vale destacar, diante da figura acima, as relações entre o termo mãe e os termos solo, apoio, rede e grupo (fundo cor de rosa); o termo querer e os termos conseguir, provar e superar (fundo cor amarela); o termo perguntar e os termos companheiro, preconceito e julgamento (fundo cor laranja). Na primeira relação, podemos observar a coocorrência dos termos de forma a expressar as conjunções referentes ao suporte existente na configuração da maternidade solo e às possíveis nuances experienciadas nesse contexto. No segundo agrupamento aqui apresentado, ressaltam-se aspectos relacionados à performance das mães que vivenciam tal contexto, exprimindo um movimento de luta e resistência diante dos conflitos vivenciados, na busca de superar seus desafios e a fim de conseguir alcançar suas conquistas. No último exemplo, pode-se observar como o aspecto do companheiro, sendo presente ou não, pode acarretar observações da sociedade que, consequentemente, impelem opiniões, podendo sobrepor às mães solo situações de preconceito e julgamento.

 

O agrupamento das palavras dificuldade, espelho e olhar (fundo cor azul), por sua vez, leva-nos a considerar os possíveis impactos destas conjunções em níveis psíquicos, influenciando na autoestima, saúde mental e bem estar dessas mulheres. Nesse mesmo


sentido, as palavras pesado, chorar e sobrecarregar em agrupamento (fundo cor verde), evidenciam a existência do acúmulo de papéis vivenciado por estas mães e que, da mesma forma, podem influenciar em grau mais profundo e interno. Por fim, podemos visualizar pela conjunção das palavras morrer e orgulho (fundo cor azul), parâmetros de profundidade que estas configurações de vida podem compreender, quase como uma catarse, em que aquele lugar onde já existiu o desejo de morte, também impulsiona o indivíduo ao lado oposto, de reinventar-se, ressignificar-se e transformar-se, caminhando em sentido de, além de sobrepor-se ao sentimento destrutivo sobre si mesmo, levar-se ao posto de orgulhar-se do que se é e do que realiza.

 

6.  DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

 

A partir dos relatos apresentados e das percepções da linguagem, favorecidas visualmente pelo software IRaMuTeQ, fica evidente que a realidade vivida por mães solo envolve conjunções distintas e variadas, influenciando os diversos âmbitos de suas vidas e, podendo gerar consequências positivas e negativas, tanto em níveis sociais, quanto pessoais, compondo a subjetividade e a construção psíquica destas mulheres. Ainda, é possível perceber semelhanças muito grandes nos conteúdos e também distinções; semelhanças porque muitas vivências são experienciadas de maneira comum por aquelas que fazem parte de tal contexto; e distinções porque, ainda  que vivenciadas as mesmas situações e contextos, cada pessoa de absorver o mesmo acontecimento de maneira muito particular e única.

 

As narrativas demonstram também, mães em diferentes momentos da maternidade,  que compartilham das mesmas angústias: Criar um (a) filho (a) sozinho. Tal como descreve Sarragiotto (2016), mães solo denominadas de famílias uniparentais ou monoparentais que, mesmo nos dias atuais, apresentam-se como diferente e difícil numa sociedade preconceituosa e despreparada para lidar com o outro.

 

A compreensão do fenômeno a que este estudo se propôs a abordar, parte também da teoria das representações sociais que busca explicar os fenômenos a partir das representações sociais. Essa teoria verifica as representações que se têm sobre os objetos, pessoas e situações e estuda o indivíduo nas suas relações com o ambiente, ou seja, foca-se nas relações humanas. Segundo Moscovici (2007), a representação social está relacionada com a intenção de classificar as coisas ou os indivíduos, isto ocorre em uma tentativa de descrever seus sentimentos e ações. É importante salientar também que a teoria das Representações Sociais é


uma forma sociológica de Psicologia Social, que é considerada uma área da psicologia que estuda as interações entre o indivíduo e a sociedade e, a partir dessa relação, é que ele se constrói (SÁ, 2010). Da mesma forma, a análise das narrativas proposta pela Psicossociologia é ainda uma aposta na indissociabilidade entre o individual, o social e o político, no fazer falar e na escuta que se oferece ao que é narrado, na rememoração e no ultrapassamento do indivíduo e de sua história pessoal.

Logo, é oportuno ressaltar que a influência das representações sociais também se apresenta como determinante na concepção da maternidade, assim como a influência de padrões culturais, crenças e valores, a qual se inscreve num momento historicamente construído, dentro da dinâmica da sociedade (SARRAGIOTTO, 2016). As narrativas de vida vislumbram tanto a singularidade de cada história como a complexidade que elas comportam, compreendendo que os sujeitos trazem consigo a história de um povo, de um coletivo, de sua cultura e mesmo de sua ancestralidade. Desta forma, são os recortes definidos metodologicamente que vão permitir aceder a aspectos diferentes da vida de quem relata sua história, segundo a visão psicossociológica (SOUZA; CARRETEIRO, 2016).

 

Em face a essa busca, é mister ainda apontar que a conhecida disputa entre a psicologia e a sociologia, que engendrou na pesquisa social a dicotomia equivocada entre o individual e social, aqui se desfaz. A proposta metodológica que tomaremos de Gaulejac (2006) promove essa articulação, trazendo uma discussão dialética entre campos até então rivais, sejam o individual e o social, o coletivo e o subjetivo, e aponta para a indissociabilidade entre seus saberes, indicando a sua articulação como imprescindível aos propósitos clínicos do método das narrativas de vida, já ele se propõe a percorrer – senão reconstituir – uma cadeia que vai desde os conflitos psíquicos aos relacionais, passando pelos intra-familiares, apontando para os conflitos sociais e compreendendo a história individual como socialmente determinada e determinante, no sentido de que cada sujeito é, além de produto, produtor da história coletiva do seu povo (GAULEJAC, 2006).

 

Podemos compreender a partir desse estudo que a maternidade como fora dos padrões normativos, comporta ideais da função materna que podem gerar angústia e ambivalência em um entendimento psicossocial (AZEVEDO, 2017), embora não seja possível afirmar que as mães entrevistadas estão ou não em um estado depressivo a partir de apenas um relato.


Parke (1996), coloca que mães que são acompanhadas por seus companheiros tendem a ter um contato melhor com seus filhos, onde se percebe um aumento e constância no sorrir e falar destas para com seus bebês, porque acompanhadas, as mães sentem-se cuidadas, têm sua autoestima elevada e transmitem esse bem estar ao filho. Porém, apesar da importância inegável da figura paterna, muitas mães e filhos tornam-se órfãos paternos, que pode trazer consequências prejudiciais no aspecto emocional, social e econômico. A ausência paterna pode ser percebida de diversas formas: por abandono, separação, divórcio ou morte.

 

Outra questão que se apontou em destaque é a falta de suporte que muitas mulheres sofrem ao criar um filho sozinho. Esta necessidade de apoio parece ser não só física, mas emocional, não necessariamente sendo de um par romântico ou de um homem (AZEVEDO, 2017). É importante ter o amparo, seja da família ou amigos, mas de pessoas que compreendam as dificuldades e responsabilidades que ser mãe acarreta e que se mostrem disponíveis para servir de auxílio, até apenas como escuta. Aqui, novamente, em um contexto social, é entendido que a mulher é capaz de forma inata de dar conta sozinha de todas suas tarefas, o que afasta os demais das demandas inúmeras e incontáveis que ser mãe engloba.

 

É alarmante pensar no desamparo que estas mulheres vivenciam, em diferentes fases da maternidade. Guardar para si estes sentimentos sem possibilidade de exteriorização se mostra deveras aflitivo, embora seja compreensível a motivação para não expor esses sentimentos, como o julgamento e o desencaixe social. Embora algumas se mostram capazes de prover afeto, o peso em desenvolver vários papéis as deixam tementes do futuro.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O tema abordado neste estudo apresenta uma relevância tanto acadêmica, por se tratar de um viés original, como social, por se tratar de uma realidade que não tem a devida visibilidade em nossa sociedade e, dessa forma, não é atendida e relacionada com as devidas formalizações; não existem políticas públicas suportivas à demanda, uma rede de apoio pré-estabelecida ou um suporte acessível e disponível. Diante dos números apresentados, fica evidente que se trata de uma realidade altamente relevante e presente que, no entanto, ainda assim é socialmente negligenciada e, por vezes, marginalizada.

Tem-se, pois, que o abandono e omissão paterna, não apenas no aspecto material, como intelectual, moral, psicológico, educacional e mesmo em decorrência do próprio dever de cuidado, é uma realidade numerosa que incorre na sobrecarga da mulher pelo acúmulo de


tantas funções. A dificuldade de conciliação entre a vida familiar e a limitação financeira, agravada pelas extensivas horas de trabalho geralmente mal remuneradas, é uma questão relevante na vida dessas mulheres, podendo refletir sentimentos de culpa em relação aos cuidados com os filhos e à atenção que necessitam. Como visto neste estudo, ser solteira implica em uma sobrecarga de tarefas e é preciso que equipes de saúde estejam atentas a essa situação e seus possíveis impactos a nível de bem estar e de saúde mental, bem como nas mais diversas constituições da mulher como indivíduo.

 

As narrativas de vida aqui apresentadas, ao propiciar uma reformulação do vivido e da memória, colocando em pauta os enfrentamentos a questões acerca da experiência, da vida e da morte, provocam um reposicionamento subjetivo daquele que fala. Percebe-se pela apresentação das linguagens, características de sofrimento, desamparo e desesperança que podem decorrer da visão marginalizada que perpassa os posicionamentos desta mulher na sociedade, muitas vezes destinada à margem da mesma.

As características do contexto no qual este estudo se desenvolveu atribuiu influências em seu processo de pesquisa, podendo ter interferido limitações à coleta de dados e ao contato com voluntárias, bem como o número de entrevistas; ainda, a ampliação dos bancos de dados a serem pesquisados, abrangendo níveis internacionais extraindo recursos de Banco de dados como PubMed e PsyInfo, poderia promover uma visão mais ampla de como as mães solo se constituem nas diferentes culturas. No entanto, ressalta-se que a pesquisa se delineou a níveis nacionais pelo objetivo de analisar as características desta temática em nossa cultura.

 

Há de se pensar, também, nas consequências deste contexto de vida para os filhos — o que não foi enfatizado na discussão desta pesquisa, mas é uma questão que necessita ser abordada em futuros estudos, a fim de proporcionar uma visão preventiva e suportiva para os mesmos. Ressalta-se, sobretudo, a necessidade de atenção, cuidado e discussão cada vez maior sobre esta temática e realidade tão presente e ao mesmo tempo, tão pouco percebida e considerada.

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APÊNDICE A - ROTEIRO DAS ENTREVISTAS MAPEAMENTO SOCIODEMOGRÁFICO

1  Qual a sua idade?

 

2  Qual a sua escolaridade?

 

3  Qual a sua ocupação atual? 4 Em que idade foi mãe?

5  Primípara ou não?

 

6  Com quem reside?

 

QUESTÕES NORTEADORAS

 

1  Você se tornou mãe solo por escolha?

 

2  O processo da gestação foi solo? Como foi isso para você?

 

3  Por ser mãe solo, você vivenciou algum tipo de julgamento ou preconceito? Como foi isso para você?

4  Você tem/teve alguma rede de apoio com que pudesse contar? 5 Você já comparou a sua realidade com a de outras mães?

6  O pai da criança foi participativo em algum momento?

 

7  Você percebe se acumula papéis (mãe, chefe de família, vida profissional, mulher, etc)? Se sim, qual é o impacto disso?

8  Na sua opinião, a visão de maternidade é romantizada?

 

9   A maternidade muda muitos aspectos da vida de uma mulher. Quais foram as principais mudanças para você?

10  Na sua visão, como é ser mulher e mãe solo na sociedade atual? 11 Como você vê seu futuro sendo mãe solo?


APÊNDICE B - CLASSIFICAÇÃO POR MÉTODO REINERT

 



APÊNDICE C - NUVEM DE PALAVRAS